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Desta Arte que me Fala - 1ª viagem | O Início

Atualizado: 3 de fev. de 2020

Sejam bem-vindos ao início desta jornada! Que com ela possamos ir-nos olhando mais a fundo, aceitando(nos), começando a deixar cair mais camadas pesadas da nossa história de vida, couraças que achamos serem tão preciosas para nós quanto verdadeiramente limitantes.


O meu início neste percurso artístico não começou aqui, com esta imagem que agora partilho com vocês (ver em baixo). Este foi realmente o primeiro desenho onde me aventurei a expressar com uma esferográfica, faz alguns anos. O conteúdo, no entanto, que deixei cair nesta folha de papel, é já o resultado de uma história que fui vivendo sem nunca me ter dado conta, em ignorância e inconsciência.


Foi, ainda assim, o início de alguma coisa.


Início é energia, alegria, celebração. De qualquer início que possamos pensar, eles andam lado a lado com a essência da vida. Início é nascer. Nascer é alegria. Não há momento mais bonito e carregado de emoção quanto o início de uma nova vida, quando a mãe suporta e supera a dor no seu corpo em prol do nascer do seu bebé.


Convido-te a parar por dois minutos, fechar os olhos e visualizar-te enquanto bebé que acabaste de nascer. Fá-lo, por mais absurdo que te possa parecer. Deixa-te levar com atenção ao que sentes, mais do que o que possas conseguir visualizar. É uma sensação agradável? Acolhimento e/ou conforto? Ou está presente um ligeiro desconforto e/ou desconfiança? E hoje em dia, sentes-te merecedor das pequenas dádivas que te vão surgindo na vida, ou de resposta pronta te perguntas “Quais dádivas?!"?


O nascimento é o nosso começo no mundo da dualidade onde nada existe sem o seu oposto. Nós somos bons, trazemos bondade connosco. Mas nesta realidade que nos é oferecida começamos a aprender as várias maneiras de lidarmos com os opostos. Às vezes há experiências que nos lembram dos valores inatos que trouxemos connosco à nascença. Mas às vezes há experiências que pela sua marca de dor nos fazem esquecer de quem somos, quanto mais pensar sobre o que trouxemos. É aqui que entra o nosso espelho emocional – a arte – e é a partir daqui que ela fará o seu monólogo.



Ninguém se lembra de se começar a esquecer de quem é. De ter consciência disso, pelo menos. Começamo-nos a esquecer de quem somos em bebés, quando nos impõem limites que vão para além da segurança necessária. Choramos então porque nos doeu e começamos a esquecer mais uma vez de quem somos quando rapidamente nos calam o choro. Começamo-nos a esquecer de quem somos todas as vezes que situações com gatilho semelhante acontecem, até ao ponto em que a única forma de (sobre)viver é cair no esquecimento permanente da essência com que cada bebé nasce - e não te esqueças, já todos nós fomos esse bebé um dia.


Cria-mos paredes, endurecemos o local onde escondíamos a bondade. Calamos a essência do nosso bebé sempre que a espontaneidade se ousa pronunciar. O que no início se traduzia como um leve desconforto ou dor momentânea “sem significado”, o tempo e as repetições tratam de aumentar a espessura das paredes que nos começam a comprimir, a pressionar-nos para dentro e para o fundo a ponto de nos deformarmos e, sem mais nos conseguirmos lembrar, tornamo-nos num outro alguém. Deformamo-nos na identidade, nas emoções. Deformamo-nos também fisicamente, quando a dor da nossa alma chega ao seu limite e o corpo é a última opção. Uma dor na alma não tem que ter uma conotação espiritual ou esotérica. Dor na alma é real. É doer tão profundamente que se deixa de percepcionar o seu significado ou origem. Mas nós, que aprendemos a ver um mestre que nunca vacila ou se fragiliza, continuamos o nosso caminho, com o esquecimento de quem somos gravado no nosso sorriso.


De bondade trazida no peito do nosso bebé, até deformados e sem a nossa autêntica voz, começamos aos poucos a trilhar o caminho da solidão. Falamos o que não sentimos e o que sentimos não conseguimos falar. Usamos máscaras para que quando o mundo nos veja, nos sintamos vistos e o mundo assim nos possa aceitar. E nesta falta de verdade para com o nosso bebé, esquecemo-nos e perdemo-nos um pouco mais, afastando-nos do caminho que nos levaria de volta a nós próprios.


Estamos constantemente presos à ideia de que o tempo irá curar. Envelhecemos na sombra da romantização desta ideia, a ideia de que precisamos de sofrer para nos tornarmos mais fortes e que isto nos traz sabedoria. Em certa medida, sim, é verdade. Mas deixa de o ser quando nos conformamos com a crença enraizada do destino e a sua imutabilidade. Na verdade, a crença que se instala sem nunca me ter dado conta, em ignorância e inconsciência, é a de que não somos merecedores. “Quais dádivas?!”


Se não acordarmos a tempo, dificilmente nos iremos voltar a lembrar de como é ver o mundo pelos olhos do nosso bebé.


Por isso, lembra-te,


estás sempre a tempo de voltar a nascer.


Catarina Marques



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